Atendendo a pedidos a memória desafia o tempo em busca de nossas melhores lembranças. Graças a ela, uma simples imagem é suficiente para que toda magia de um instante nos invada novamente e, num processo rejuvenescedor, acabe revelando que na maioria das vezes, o que julgamos perdido, está somente guardado a nossa espera. E como a nostalgia é um estado de espírito presente somente em quem viveu momentos felizes, o Acervo resgata uma coletânea de títulos que vão do clássico ao contemporâneo e são endereçados a todos que nos escrevem lembrando de momentos tão especiais de suas vidas. Aos amigos, nosso muito obrigado.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Cossacos






“Nada mais belo e, ao mesmo tempo, aterrador que uma carga de cavalaria dos cossacos". Caminho das Tormentas, do escritor russo Alexei Tolstoi, não é a única obra da literatura que exalta espírito cossaco. Hábeis dançarinos com seus saltos acrobáticos, incomparáveis cavaleiros, formidáveis cantores, bravos e impiedosos guerreiros, conhecidos pela habilidade em usar seus sabres, sua original forma de se vestir, com túnicas, botas altas e barretes de astracã, os cossacos tomaram-se famosos ao longo de toda a história da Rússia.

Ainda hoje, sua imagem junto aos russos
oscila entre a de heróis e a de carrascos
Kosak é provavelmente uma adaptação da palavra turca kasek, que significa aventureiro. Alguns historiadores supõem que os primeiros cossacos originaram-se das hordas mongólicas que chegaram à Ucrânia por volta de 1237. Outros situam a formação dos primeiros núcleos em 1380, quando as dinastias da Polônia e da Lituânia se uniram.

Dessa união resultou o deslocamento das fronteiras para sudeste, rumo à Ucrânia. A implantação de uma nova ordem social, em que as terras eram repartidas entre senhores feudais, levou a população regional à condição de servos. Muitos fugiram em direção ao sul, para as terras de ninguém: foram os aventureiros, os kosaks.

Além das cataratas (za porophy) do rio Dnieper, instalaram-se os que ficaram conhecidos pelo nome de zaporogos. Além desses, cerca de onze grupos cossacos se formaram ao longo das fronteiras da antiga Rússia. Oriundos dos mais diversos povos, formavam pequenas repúblicas de camponeses e soldados que precisavam defender por si mesmos suas regiões e sua autonomia.

Guerreiros famosos tanto por sua destreza a cavalo 
como pela indumentária típica
Constituíram assim, pequenos núcleos dentro do Império Russo, contínua ameaça ao poder central. Mas também desempenharam papel fundamental na colonização e povoamento das terras do leste. Em várias ocasiões receberam concessões e privilégios em troca de serviços militares prestados aos czares. Mas todas as tentativas de enquadrá-los na administração do Império resultaram sempre em rebeliões que visavam a preservação de suas liberdades e conquistadas.

Seu sistema de governo independia do que vigorasse na Rússia. As várias aldeias cossacas formavam um distrito, governado por uma assembléia (rada) eleita por seus membros masculinos . A rada, por sua vez, escolhia um chefe - ataman (do alemão hauptlllann, caudilho) que nos períodos de guerra, possuía podêres ditatoriais. A Rada escolhia também membros importantes do bando, tais como: juízes, escribas, oficiais menores e até mesmo, membros do clero.

Mas a autonomia dos zaporogos terminou por volta do século XVII, quando a Rússia e a Polônia, duas potências em expansão, lutaram pela posse de terras ucranianas.

Após enfrentar o Czar fundando uma nova república
cossaca, Stenka Razin é condenado e esquartejado
Sob pressões múltiplas - dos poloneses, dos russos e tentativas de implantação da religião católica -, os cossacos se revoltaram, chefiados por Bogdan Chmielnicki, eleito ataman dos zaporogos em 1646. Várias vêzes venceram os poloneses e, durante dezoito anos, Chmielnicki foi a maior autoridade da Ucrânia. Em 1651 foram derrotados, mas conseguiram ajuda do czar russo contra os poloneses. Outras guerras seguiram a russo-polonesa; mas os zaporogos permaneceram em suas terras.

Os cossacos do Don surgiram quase mesma época que os zaporogos. Foram eles que em 1670, sob o comando do ataman Stenka Razin, levantaram os camponeses da região de Astrakhan, onde fundaram uma república. Mas Stenka foi finalmente prêso, torturado e esquartejado.

Napoleão é apresentado às tropas cossacas e
se encanta com seu poder destrutivo
Unidades cossacas desempenharam um importante papel em muitas guerras nos séculos XVII, XVIII e XIX, tais como as guerras russo-turcas e as guerras russo-persas na anexação da Ásia central.

Durante as Invasões Napoleônicas da Rússia, os cossacos eram os soldados russos mais temidos pelas tropas francesas. O próprio Napoleão disse: “Os cossacos são as melhores tropas apeadas que existem. Se eu os tivesse no meu exército, eu conseguiria conquistar todo o mundo!”.

O Império de Habsburgo contratava exércitos de cossacos mercenários para aliviar a pressão exercida pelo Império Otomano nas suas fronteiras. Cossacos e Tártaros partilharam uma certa hostilidade entre si. Incursões e retaliações de ambos os lados, eram uma constante nesse período.

Sentindo-se uma comunidade de elite do próprio Czar, por
ele, contiveram muitas desordens domésticas
A mais importante rebelião cossaca foi a orientada pelo ataman lémelian lvanovitch Pougatchev, em 1773 que abalou toda a Rússia, até a Sibéria. Os cossacos praticaram atos de violência exigindo a restauração de sua autonomia, o fim da servidão e do feudalismo.

Não obstante, no século XIX, o Império Russo conseguiu anexar por completo todas as colônias e comunidades cossacas, centralizando em vez de “premiar” com privilégios pelos seus serviços. Por esta altura, eram elementos bastante ativos no exército russo nas guerras que travavam. Sentiam-se uma comunidade de elite, separada do resto, por isso muitas vezes foram usados para conter desordem doméstica, especialmente durante a agitação geral dos trabalhadores e camponeses de 1905-1906

Nicolau II
Quando se deu o início da revolução russa, em fevereiro de 1917, os cossacos começaram a partilhar de forma geral uma grande desilusão acerca da liderança czarista, o que fez com que os alguns regimentos de São Petersburgo se juntassem à revolução bolchevique. Este fato gerou grande impacto psicológico no governo de Nicolau II, levando o Czar a abdicar muito antes do tempo, uma vez que o governo imperial dependia demasiado da lealdade cossaca.

A Revolução Socialista eliminou os últimos privilégios que ainda restavam aos cossacos como grupo. Muitos emigraram do país. Na guerra civil que se seguiu, encontravam-se dos dois lados do conflito. Muitos oficiais e outros combatentes altamente experientes lutaram pelo Exército Branco, e outros tantos, pelo vermelho. Com a vitória vermelha dos bolcheviques, uma política de eliminação sistemática teve lugar sobre os cossacos sobreviventes e sobre as suas terras, uma vez que estes eram vistos como uma potencial ameaça ao novo regime instaurado. De acordo com as crônicas da época, no período de 1919 a 1920, numa população de cerca de 3 milhões de pessoas, o regime Bolchevique matou ou deportou para a Sibéria estimadamente de 300 a 500 mil Cossacos
Em 1936, sob a pressão de descendentes cossacos, foi decidida a re-introdução deste povo no Exército Vermelho. Durante a Segunda Guerra Mundial, os Cossacos viram-se novamente de ambos os lados do conflito, dado que a maior parte dos colaboradores do regime nazista provinha do Exército Branco, agora como refugiados.

A política bolchevique de eliminação sistemática dos cossacos consistia no extermínio ou deportação da população principalmente das regiões de Don e de Kuban . Alguns historiadores alegam que as medidas repressivas impostas
pelos soviéticos durante o período constituem genocídio.


FILMES RELACIONADOS COM O TEMA INDICADOS PELO ACERVO

Taras Bulba (1962), dirigido por J. Lee Thompson. No século XVI, hordas enviadas pelo sultão turco espalharam terror no mundo civilizado. O império otomano se espalhou para o oriente, tomando a Ásia Menor, para o sul no Mediterrâneo e para o norte pela Criméia. Triunfante, o sultão voltou-se para o ocidente, para a Ucrânia. O destino da Europa era decidido nas vastas planíces conhecidas como estepes. Esta situação força os poloneses a fazerem uma aliança com os cossacos da Ucrânia, para defenderem as estepes. Quando a vitória já está assegurada os poloneses, que precisavam ter o domínio daquela região, traem seus aliados. Este ato gerará diversas conseqüências.

Vermelhos e Brancos (1967), dirigido por diretor Miklos Janksó. A história segue o exército vermelho e o exército branco que se enfrentam em meio a revolução russa, liderada por Lenin, transformando o pais numa guerra civil pela formação da União Soviética.

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